A porta do carro da frente abriu-se e uma jovem muito bem
vestida e de botas com salto de agulha saiu furiosa e começou a insultar o
condutor da frente; da boca bem pintada saíam palavrões dignos de um carroceiro
irritado. O condutor da frente também saiu do carro, um homem maduro e com cara
de poucos amigos.
A rapariga dos saltos de agulha deu um pontapé na roda do
carro da frente e o homem avisou-a:
- Ó grande vaca, se pensas que eu não bato em mulheres,
andas enganada!
Joana abanou a cabeça, atónita. O João riu-se.
- Achas que se vão pegar à pancada?
- Sei lá! Mas ela bem merecia...
- Mas é uma rapariga!
- E então?
- Tu eras capaz de me bater?!
- A ti não mas não é por seres rapariga, é porque não te
portas assim.
- Queres dizer que se fosses tu ali à frente batias-lhe?
- Claro! Ela deu um pontapé no carro, não deu?
- Foi no carro, não foi no homem...
- É a mesma coisa.
O semáforo mudou de cor e imediatamente se fez ouvir a
cacofonia das buzinas, protestando contra a cena que antes entretivera os
condutores mas que agora lhes impedia a passagem e atrasava o destino.
Joana sentia um frio desagradável a escorrer pela espinha
mas não disse mais nada. Não queria saber mais.
2012
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