sábado, 27 de julho de 2013

Finalmente

O rapaz chorava, infelicíssimo.

O seu desgosto era profundo e completo, desesperado. Estava fisicamente incapaz de recordar outros desgostos e a sua recuperação; não podia reconhecer que o tempo, mesmo quando não cura, atenua o sofrimento para níveis que a biologia pode suportar sem por em causa a sobrevivência.
Portanto, estava extremamente infeliz e por toda a eternidade, que é a duração do presente para os muito jovens.

Toda aquela miséria e desespero eram estranhamente doces; a sua juventude inocente também desconhecia que o sofrimento pode viciar, tal com a excitação, o amor ou mais duramente, a heroína.
Não, não sabia disso - mas sabia que não merecia a dor que lhe apertava o peito, a angústia, o futuro inexistente, não merecia nada disso. Sempre fora uma pessoa decente, um “homem bom”.
Mas o mundo não reconhece os homens bons, trata-os pior do que trata os maus. Levantou-se e com a mão, limpou as lágrimas. Ah! A vida não merecia a pena de ser vivida!

Pegou na caçadeira, entrou pelo colégio adentro e matou tudo quanto viu mexer: não sofreriam como ele, não! Era demasiado doloroso, crianças tão inocentes e frágeis não mereciam tal desespero.

Quando já tinha acabado com todo o sofrimento potencial, apontou a arma para si próprio e premiu o gatilho, matando o sofrimento actual.

A dor desapareceu. Finalmente



Dezembro 2012

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