O rapaz chorava, infelicíssimo.
O seu desgosto era profundo e completo, desesperado. Estava
fisicamente incapaz de recordar outros desgostos e a sua recuperação; não podia
reconhecer que o tempo, mesmo quando não cura, atenua o sofrimento para níveis
que a biologia pode suportar sem por em causa a sobrevivência.
Portanto, estava extremamente infeliz e por toda a
eternidade, que é a duração do presente para os muito jovens.
Toda aquela miséria e desespero eram estranhamente doces; a
sua juventude inocente também desconhecia que o sofrimento pode viciar, tal com
a excitação, o amor ou mais duramente, a heroína.
Não, não sabia disso - mas sabia que não merecia a dor que
lhe apertava o peito, a angústia, o futuro inexistente, não merecia nada disso.
Sempre fora uma pessoa decente, um “homem bom”.
Mas o mundo não reconhece os homens bons, trata-os pior do
que trata os maus. Levantou-se e com a mão, limpou as lágrimas. Ah! A vida não
merecia a pena de ser vivida!
Pegou na caçadeira, entrou pelo colégio adentro e matou tudo
quanto viu mexer: não sofreriam como ele, não! Era demasiado doloroso, crianças
tão inocentes e frágeis não mereciam tal desespero.
Quando já tinha acabado com todo o sofrimento potencial,
apontou a arma para si próprio e premiu o gatilho, matando o sofrimento actual.
A dor desapareceu. Finalmente
Dezembro 2012
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