sábado, 12 de junho de 2010

Conto moderno


Com um sorriso simples, conta a sua vida: as dívidas do pai que teima em pagar com o seu ordenado exíguo, o irmão que se suicidou por desgosto de viver, a irmã que foge para a sua casa quando o marido está com os azeites, o tio que se demitiu das dores da família e fugiu para longe.
O amor da sua vida que não teve vida para aceitar.

Não tem pudor nos seus sentimentos e tudo lhe é natural; se os outros não podem fazer e ela pode, faz, tão natural como a vida e a morte; aceita todas as responsabilidades e não reivindica direito algum pois não reconhece o conceito.

As rugas da sua cara sublinham os sacrifícios diários e persistentes. Os cabelos de prata embelezam o seu rosto, cada um deles atestando as dores que pensa serem dos outros.

Compreende todos e não se compreende a si própria.

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